Ilusão de que não somos todos, afinal, completamente solitários
Aprisionados num "eu" com nossos mundos mentais
A certeza é o terreno da fé
Mas ainda restam dúvidas
A certeza absoluta é a posição do paranóico
Amar é dar aquilo que não se tem
se o zen fosse a morte absoluta dos pensamentos e dos sonhos não haveria tanta literatura... zen. e a poesia e tantas outras artes orientais não teriam nascido justamente nos mosteiros.
as pessoas seguem achando que budismo é o que elas leram por intermédio de sabe-se lá quem e não algo vindo do outro lado do planeta. tal incompreensão e preconceitos também são de responsabilidade dos "mestres eleitos", que, no geral, apenas espelham os clichês do que seus alunos querem ver num professor. talvez os professores mais populares por aí não sejam os melhores. algo que se aplica também à produção artística e a tantas outras áreas. "a voz da maioria" nunca é a voz de deus, todo grupo é narcísico e punitivo com o diferente; a maioria, na maioria das vezes, está chafurdando no erro e nos preconceitos.
gasshô.
segunda-feira, 13 de janeiro de 2025
poema das obviedades - XII
zazen não é sentar e saber
zazen é sentar e só ser
o imperador que se achava e se dizia grandioso budista perguntou a bodidarma "quem é você?"
que respondeu: "eu não sei"
e partiu
comentário: os ocidentais não entendem isso até hoje. os grandes (e, não raro, endinheirados intelectuais herdeiros de kant) estudiosos. não há amor maior do que apenas ser. quem sabe?
poema das obviedades - IX
(primeira versão)
Sempre há algo que não se sabe
Sempre há algo de não saber
Nunca falta nunca faltará
para ninguém
em todo universo
algo que não se sabe
Ridículo e triste
Talvez sobretudo ridículo
Quem-tudo-sabe
Toda e qualquer religião
Psicotontos tentando
Encaixar pessoas
tão diversas em suas teorias
Todo preconceituoso
Horroroso cheio de ideias
Certas de quem é o outro
E o que deseja o que deveria
Sempre há algo que não se sabe
Sempre há algo de não saber
Nunca falta nunca faltará
para ninguém
em todo universo
algo que não se sabe
Sempre há algo que não se sabe
Sempre há algo de não saber
Nunca falta nunca faltará
para ninguém
em todos os universos
algo que não se sabe
quarta-feira, 8 de janeiro de 2025
Bastante satisfeito com a felicidade coletiva gerada pela vitória do Globo de Ouro de Fernanda Torres, uma das maiores atrizes que o país já produziu. Ela que também atuou em "O que é isso, companheiro".
A película transmite muito bem a atmosfera e sensações do que foi o período completamente nefasto da ditadura empresarial-militar, mesmo que apenas do ponto de vista de uma família abastada. Retrata o tipo de coisa que aconteceu com muitas pessoas à época. Tempos de horrores, cujos agentes nunca foram punidos, e que alguns clamam que retornem. E infelizmente os mecanismos de embuste para que algo assim seja possível já estão sendo instalados novamente. Um exemplo: mister M. Zuckerberg em seu anúncio de que sua plataforma de mídia social não terá qualquer filtro para conter espalhamento de notícias falsas em massa. Tudo em nome da falácia que chamou de "liberdade de expressão", que na verdade significa esconder fatos, esconder a história e dar livre circulação a mentiras (da mesma maneira como antes e ainda hoje escondem cadáveres). Tudo por dinheiro e poder, as velhas pautas preponderantes de nosso sistema. Num contexto assim, obras como a baseada no livro de Marcelo Rubens Paiva, ganham ainda mais importância.
"Ainda estou aqui" é um filme muito bom, indicadíssimo para quem quer começar a entender o que de fato foi o período que fez parte do que gerou os nossos tempos atuais. Suas conquistas são também algo que beneficia o combate às atrocidades impunes cometidas no passado, que sinalizam cada vez mais quererem retornar com toda força. Mostra como viver no Brasil com consciência de nossa realidade, ao contrário de outras pessoas amortecidas e/ou vis, segue sendo um conjunto de lutas necessárias, entre elas a batalha perene pela memória.
domingo, 29 de dezembro de 2024
桜梅桃李 oubaitori
cravou no velho
pequenino ofurô
não apenas renovar
renovar renovar
and a happy new year
domingo, 24 de novembro de 2024
Isto NÃO é Uma Tradução
(de matsuo bashô)
ba xô
o mar cor da noite
as vozes dos patos são
vagamente brancas
sexta-feira, 25 de outubro de 2024
tanka para ono sensei
um senhor idoso
apoiado em sua bengala
adentra o dojô
vagarosamente nô
tatame um kami se move
quinta-feira, 24 de outubro de 2024
poema das katanás (19)
o embainhar já
podendo desembainhar
as facas da lâmina
na altura da garganta
do oponente
kamae com o peso
no centro
movimentos circulares
como os astros
...
domingo, 29 de setembro de 2024
ba-xô!
o mar cor da noite
as vozes dos patos são
vagamente brancas
baxô!
o mar cor da noite
as vozes dos patos são
vagamente brancas
quarta-feira, 25 de setembro de 2024
não está claro
(poesia sugestiva
pré-além-
impressionista)
se o macaco
apoia-se numas
árvores em
montanhas
ou se agarra
nuvens voadoras
no céu enquanto
tenta colher a lua
nos espelhos
do lago
teria hakuin
acrescentado:
se ele apenas
mergulhasse
segunda-feira, 23 de setembro de 2024
não está claro
(poesia sugestiva
pré-impressionista)
se o macaco
apoia-se numas
árvores em
montanhas
ou se agarra
nuvens voadoras
no céu enquanto
tenta colher a lua
nos espelhos
do lago
teria hakuin
acrescentado:
se ele apenas
mergulhasse
sábado, 21 de setembro de 2024
hakuin
macaco
colhendo
a-lua-n'água
hakuin-daiosho
macaco
colhendo
a lua n'água
sexta-feira, 20 de setembro de 2024
Ainda há quem goste
De olhar diretamente a,
A lua, fumaça...
Lua vermelha
Atrás do manto fascista
De fumaça
quarta-feira, 11 de setembro de 2024
algo extremamente inventivo e inovador como a poesia concreta por exemplo foi possível num momento de novas liberdades num período de alívio após guerras hoje levando em conta o tamanho do retrocesso só é possível ser o mais óbvio e direto formalismo para mimados e estúpidos whatever nobody cares
quem está bem
em tempos como estes
em tempos como estes
é sem quaisquer
quaisquer dúvidas
um nazista ou completo
idiota
sexta-feira, 30 de agosto de 2024
(Quando a soma dá em sumiço a sombra)
gato-cinza-escuro-
sob-o-sofá-cinza
-escuro-sob-a-faixa-
de-luz-do-sol-some
gato cinza escuro
sob o sofá cinza
escuro sob a faixa
de luz do sol some
quinta-feira, 29 de agosto de 2024
tanka para ono sensei
um senhor idoso
apoiado em sua bengala
adentra o dojô
vagarosamente. no
tatame: um kami se move.
segunda-feira, 19 de agosto de 2024
Como atrair atenção para um poeta?
R:
Diga que acabou miserável, passando fome e morreu atropelado numa sarjeta.
A playbostada
vai adorar.
A voz do povo
Não é a voz de Deus
A voz do povo
No nosso sistema
Infelizmente
É a voz do patrão
Que se impõe
À força da mesma
Maneira como um
Senhor de escravos
E há explorados
Que se apaixonam
Pelo patrão
E o sonho do oprimido
É tornar-se o opressor
E Dante e Safo sempre serão
Muito mais preciosos do que
A Praça é Nossa
E muitos grandes intelectuais
Psicanalistas e mestres zen
São apenas grandes idiotas
Charlatões ou malandros
O aquecimento global existe
A pandemia aconteceu
A vida não possui propósito
Muito menos sentido
E apesar de tudo
É a vida é bonita
E é bonita
domingo, 18 de agosto de 2024
ave, cioran
Todos (medíocres e igualmente feitos de carne) acham que podem salvar o outro. Com amor, moral, sabedoria, etc. Todos, se acham, de alguma forma, superiores. Mais. Mais esclarecidos, mais inteligentes, mais amados, mais capazes de amar, mais bondosos, mais humildes, mais fodidos... Mais lidos. Mais. Melhores do que o outro. Eis a raíz, maior, de todo mal. Do mal mais profundo.
quinta-feira, 15 de agosto de 2024
Música Estranha
Não sabem
Quem lobo quem
É ovelha quem são
De onde para
Que?
É só tacar
Jesus
Pobre
Coitada
Em tudo
O outro
Que outro?
Não existe
E as ovelhas
Elegem
Os lobos
A banca
Da do boi
Da bíblia
Da bala
O matadouro
O açougue
Sempre
Sai
Ganhando
E dá-lhe
Queimada
E tolos
Os touros
O ouro
Contra
O vermelho
Sanguíneo
E Todo
Mundo
Está
Feliz
Aqui
Na terra
Todo
Mundo
Odeia
O Chris
Enri
quecem
O branco
Ideal
Alpha
Pompa
Livre
Assassino
Não só
De índios
Genocidas
Governam
É o pai
E gozam
O país
quarta-feira, 24 de julho de 2024
a vote for Bart
is a vote for
anarchy!
a vote for Bart
IS a vote for
Anarchy!
sexta-feira, 5 de julho de 2024
antes de darumá
antes de darumá
havia o velho índio
norte-americano
que nomeou kwai
chang caine
(com quem
o paulo leminski
até se parecia)
de
great
swallow
of silence
sexta-feira, 28 de junho de 2024
Só não crê
quem p$de
(sobretudo, quem P$de)
É OQ
OS CANALHAS
SABEM
Muito bem
terça-feira, 21 de maio de 2024
Round 1: Cioran
Não leio Cioran procurando verdades. Me diverte. Seu pessimismo é espirituoso. Causa alguma catarse. Contraditoriamente (pois se trata de alguém que escreve sobre as possíveis vantagens do inanimado), cheio de vida. Compreendeu muito melhor a tradição oriental (pela qual demonstrou bastante interesse) do que seus antecessores, Schopenhauer e Nietzsche. Muito por questões de tempo, geração. Perceptível em seus escritos que foi afetado pela moda do zen na Europa, na passagem para segunda metade do século XX (que mais girou em torno do Rinzai, praticamente ignorando Dogen e a Soto). Hoje, o zen, e parte do melhor do budismo voltaram a ser ignorados pelos intelectuais ocidentais ou são novamente completamente mal compreendidos, retornando, assim, às prateleiras do orientalismo vulgar.
Notável a atitude, por exemplo, de psicanalistas famosos, hoje em dia, que possuem a total falta de vergonha de falar e escrever sobre conceitos que claramente não compreendem.
Já há muito tempo existe a consciência de que foi necessário formular uma psicanálise nova, que, por exemplo, obviamente não utiliza mitos de origem greco-romana, para lidar com povos de outras tradições, outras construções imaginárias. Só no Japão, Heisaku Kosawa com seus estudos vinha discutindo estes aspectos mais ou menos desde a década de 20 do século passado.
Mas, como se sabe bem, a autoestima e a completa estupidez da pessoa branca de classe média é abissal. Vivem com seus óculos em formato de umbigo. Falam e escrevem asneiras preconceituosas e julgam a todos porque se entendem como os possuidores da verdade, sobre tudo e sobre todos os povos.
Vi uns tempos atrás uma completa idiotice sobre "o sexo transcender o nirvana", da parte de pessoa famosa e psicanalista (famosa inclusive por cobrar os olhos da cara por consultas). Como se fosse possível uma competição entre os dois termos. Como se fosse possível simplesmente pegar toda e qualquer tradição e colocar no mesmo lugar onde Freud colocou o monoteísmo judaico-cristão.
Nunca tive muita simpatia por Jung, mas este teve alguma noção da complexidade do assunto, quando se tratava do pensamento oriental, e era, de fato, muitíssimo mais culto do que Freud. Diferente dos contemporâneos de agora, sem vergonha de serem preconceituosos e ridículos.
Mas sucesso é medido, nos círculos dos psis, pelas conquistas materiais, financeiras, números de publicações, e não pelo cuidado com a elaboração de seus textos. Psi bom é psi YouTuber, nos dias de hoje. E podem falar qualquer asneira, a maior parte de seus seguidores e alunos nem vão perceber nada.
Mas voltando ao Cioran, que é o que de fato me interessa mais. Há passagens maravilhosas. Não vejo como não gostar dum sujeito que escreve sobre simplesmente deixar o satori de lado para seguir com seu passeio. Não demonstra uma ignorância ridícula e preconceituosa como no caso da pessoa que num gesto imbecil declara que o sexo transcende o nirvana. Como se o nirvana fosse (pasmem!) algum tipo de sensação especial. Como se o nirvana fosse algum tipo de... paraíso? Como se o nirvana fosse algo realmente a ser alcançado. Algum estado especial de êxtase que competisse com o orgasmo.
Fora exibir que nunca foi pesquisar sobre as palavras que utiliza, (mas talvez só se basear no que escuta de analisandos financeiramente privilegiados que consomem o pior do kitsch?) a pessoa nem parece saber que no oriente se desenvolveram inúmeras tradições (como o tantra e certas práticas taoistas chinesas e japonesas) que usam o sexo como forma meditativa, e que o estalinho mixuruca que o ocidental conhece como resultado de um coito nem se compara às profundas experiências de investigação sensorial dessas práticas. Em muitos sentidos (e Jung, novamente, parecia desconfiar disso em seu tempo) os pesquisadores ocidentais ainda engatinham onde não conseguem enxergar uma antiguíssima linha de pesquisa, cegos por suas epistemologias e preconceitos.
Cioran parece talvez ter atingido a enorme decepção com o mundo que é necessária (a grande desilusão, o que os antigos chamavam de "a mente que busca o caminho") para adentrar as vias do zen. Ou simplesmente utiliza a ironia de maneira formidável. Porque contrariando o budismo de boutique e monges influencers digitais idiotas, um verdadeiro budista é alguém completamente desiludido deste mundo das formas, transientes, impermanentes. Não que obrigatoriamente a pessoa vá abandonar tudo, raspar a cabeça e se encerrar num monastério (e há vários exemplos de grandes praticantes leigos na literatura desde os tempos do fundador), você pode permanecer na sociedade e aproveitar de tudo que ela oferece (no ocidente só são populares as tradições Brahmacharyas, que negam a sensualidade, no entanto existem outras, opostas) mas internamente há uma profunda constatação de que nada, absolutamente, no mundo, conduz ao fim da insatisfatoriedade - a tradução mais precisa para "dukkha", pois Shakyamuni nunca falou a palavra "sofrimento".
No entanto, num ato de honestidade e consciência, consciência talvez de que pertence a uma outra formação, Cioran prefere seguir seu passeio. Cioran é muito mais budista (inclusive escolhendo não seguir os ensinos do Buda), do que certos mestres contemporâneos em seus trajes esvoaçantes, no ocidente do século XXI, num calor de 40 graus.
A passagem é a seguinte:
"Enquanto passeava a uma hora tardia naquela alameda ladeada de árvores, uma castanha caiu aos meus pés. O barulho que ela fez ao rebentar, o eco que suscitou em mim, e um abalo desproporcionado trazido por aquele incidente ínfimo, mergulharam-me no milagre, na embriaguez do definitivo, como se já não houvesse mais perguntas, apenas respostas. Estava bêbado de mil evidências inesperadas, das quais não sabia o que fazer...
Foi assim que estive quase a atingir o sublime. Mas achei preferível continuar o meu passeio."
(cioran, do "de l'inconvénient d'être né", trad.: manuel de freitas)
segunda-feira, 20 de maio de 2024
another brick in the wall
provavelmente não muitas pessoas estão juntando sludge, jazz e noise com poesia concreta/sonora, bossa nova e música brasileira. elementos que para alguns e para certas sensibilidades, não deveriam combinar. mas é possível através da nossa boa e velha antropofagia. e existem, é claro, as formas e as combinações mais óbvias, muito mais digeríveis e compartilháveis - que não me interessam tanto. mas, há muito tempo e cada vez mais, não são as tentativas de invenção e originalidade que importam. definitivamente. ao menos não as mais radicais.
triunfa o mais do mesmo vendável para um público condicionado que nem mesmo sabe o quanto é condicionado.
tudo é programado.
& as pessoas ainda temem a inteligência artificial. já somos, todos, quase robôs. a máquina já venceu há muito tempo.
sempre repito (nos últimos 15 - ou mais anos), o triunfo do capitalismo é total. as gerações mais novas, cada vez mais, não conseguem enxergar qualquer valor no que não produza grana e benefícios particulares. qualquer coisa fora disso é visto como coisa para otários ou completos lunáticos.
o que escrevemos e criamos só chega a meia dúzia de pessoas. que no geral nem mesmo possuem muito tempo para conferir, ocupadas com seus afazeres e a correria cruel da sobrevivência.
triunfa a indiferença e o egoísmo no sistema atual (todos sabem, ou deveriam saber). as fake news sobre os novos hypes, as tragédias e as catástrofes. e as pessoas são cada vez mais "ludibriáveis", completamente fechadas em suas bolhas, no individualismo ("eu é que não tenho nada a ver com isso"; "cada um com seus problemas"; "cada um no seu quadrado").
nunca houve tanto acesso a informação E AO MESMO TEMPO a informação nunca foi tão controlada.
"saber que não se sabe", o passo mais importante e fundamental para a aventura do saber é hoje algo não praticado, algo desinteressante. a maioria vive na mais profunda certeza, na fé mais inabalável. "só não se sabe fé em quê".
provavelmente quase ninguém lerá esta nota.
fora ser completamente impopular, meu conteúdo é bloqueado porque além de ser um underground sem cura também tenho a petulância de falar de política. no entanto, desde que comecei, sempre tive para mim, firmemente, que a derrota verdadeira seria obter qualquer reconhecimento que fosse por algo em que não acreditasse, que não fosse de fato a expressão do que sou e sinto. já toquei na noite profissionalmente. já recebi convites para todo tipo de projeto. já fui roadie de banda sertaneja (pra tirar algum dinheiro - e fui despedido porque não me juntava à equipe para rezar em grupo para "não ter acidentes durante as viagens e apresentações" - hehe). conheço o outro lado e quero distância disso.
antes ser o monge louco que fala sozinho e compõe para o vento (uma tradição, aliás, na verdade bastante nobre, que inclui grandes mestres do zen antigo que muito admiro e nos quais me inspiro) do que ser apenas mais um, outro tijolo no muro - "another brick in the wall". sem qualquer noção do que de fato contribui para a real e completa destruição do planeta e dos valores que convencionamos chamar de "humanos".
os moedores de carne jamais foram tão bem-sucedidos.
não estou sozinho em minha "derrota". estou do lado dos que considero os mais valorosos. fervo de orgulho e satisfação.
& assim sigo.
sábado, 27 de abril de 2024
lá seieu de cônone, sô?
curto o som
qisso faz
gosto de m. moore
& e. pound
o q não me impede
de também gostar
de poetas q preferem
descartá-los
devoro o q posso
“AVEC ARDEUR”
Dear Ezra, who knows what cadence is.
I’ve been thinking–mean, cogitating:
Make a fuss and be tedious.
I’m annoyed? Yes; am. I avoid
“adore” and “bore”;
am, I say, by
the word (bore) bored.
I refuse to use
“divine” to mean
something pleasing:
“terrific color” for some horror.
Though flat myself, I’d say that
“Atlas” (pressed glass)
looks best embossed.
I refuse to use
“enchant” “dement”;
even “fright- ful plight” (however justified)
or “frivol- ous fool” (however suitable).
I’ve escaped? am still trapped
by these word diseases.
No pauses, the phrases
lack lyric force; sound caprick-like
Attic Afric Alcaic
or freak calico Greek.
(Not verse of course)
I’m sure of this:
Nothing mundane is divine; Nothing divine is mundane.
Nota: Como poderia dizer Meister Eckhart: Deus, ou "aquilo que é", só é encontrável no mais profundo silêncio. Na mais profunda escuridão. Na total pobreza. Na doação completa. Doar tudo. Abandonar tudo, mesmo a noção do eu e a percepção. O ser surge onde não há ganho. Nenhum ganho.
O capitalismo odeia a quietude.
O capitalismo odeia o silêncio.
Não suporta o que não possui um "sentido".
Não suporta a ideia de uma fonte inesgotável de alguma satisfação, sempre livremente acessível a todos os seres. O capitalismo é anti-barato, anti-qualquer-iluminação.
quinta-feira, 25 de abril de 2024
Glória
Em ti Princípio
Glória
Exultai
Oh Mãe se eu possuísse alguma coisa
Qualquer coisa
Eu daria a você
Glória
Em ti, Princípio,
Glória
Exultai!
Oh, Mãe, se eu possuísse alguma coisa
Qualquer coisa
Eu daria a você
sábado, 20 de abril de 2024
d) -
los poêtas chatôboys de todas as dentições chafurdantescos clinch-ês flutuam bonés com hélices como coroas nas pêrnas gançornetes dos sar ais! aimêusar ais! dos quais sempre me escondi como nãovimdalgo chatosbois dos bééérsinhus sinhôzinhus liberals vãnessas canários e mercados de letralamento racial desafiarvão a impermanência pedanclarar é cringe shakyamuni imunes estão às ardências gardêniais às mais sofisticadas tradições pois futurinstagrams com tubos sem culhões com talpinhas nas contas muitus cultos culzões fedifilhinhos fimdelhos de pãpãis criançoitas de camisa polo sapatos-professores de coiro premiumalados pêlos atrasus & vernisagens avec petit gateou pediugastô mané babôvo ané babovovô-voyeur transdormiu rimbaud jazbutil ganhô róisnou: humilhô! oh céus oh vérsius da poesia marketing
os pares aplaudem
A vida?
Ah vida
É só um raio
os anos mais quentes
já registrados dizem
algum frio neste abril
após as águas de março
tempo passa tudo
muda e passa
a vida toda
de repente
um relâmpago
na madrugada
tempo passa tudo
muda e passa
a vida toda
de repente
um relâmpago
na madrugada
sexta-feira, 19 de abril de 2024
鳥
山
明
pássaro
montanha
brilho?
fênix
no ano
do dragão
shenlong
veio buscar
tori
yama
-sensei
no final fundem-se
as esferas
goku e shenlong
"pássaro
da montanha"?
fênix
toriyama
-sensei
faleceu
no ano do dragão
"pássaro
da montanha"?
fênix
toriyama
-sensei
faleceu
no ano do dragão
no final fundem-se
as esferas
goku e shenlong
domingo, 10 de março de 2024
antes a sombra
do que dócil covardia solar
sento em silêncio
há os sons da noite
junto de todos os seres
quinta-feira, 7 de março de 2024
Que dó!
Da miséria
Completa
Final
Que é
Alguém
Que não tem
Nada
Pelo que lutar
A não ser
Por si mesmo
terça-feira, 27 de fevereiro de 2024
amãeteraço
"I have nothing to say,
I am saying it,
and that is poetry
as I need it"
(John Cage)
Música:"Colisões"* (marcos t.)
H. Morioka foi a primeira pessoa que me ensinou formalmente o zazen. Não a via há muitos anos. A monja de cabeça raspada que aparece no vídeo curioso (abaixo deste texto) com a visita da, à época, princesa Mako ao Museu Histórico da Imigração japonesa, no PR. Ela também é praticante de Tai Chi, Chanoyu e Ikebana, professora aposentada (de educação física, se não me falha a memória) da Universidade Estadual de Londrina (onde fiz meu curso de Letras Modernas). A chamo carinhosamente de "mãe de Dharma". Lembro dela ainda com cabelos na altura dos ombros, sentada com naturalidade na posição do lótus inteiro (kekka fuza, 結跏趺坐), sempre afável e educada.
Antes, durante a adolescência, conhecia do zen apenas poemas de Bashô, Issa, Paulo Leminski. E aquilo que falavam alguns amigos mais velhos sobre o tema. Lembro de um especialmente que estava se formando em jornalismo. De temperamento greimasiano, leitor de Roland Barthes e dos estruturalistas franceses, falava com admiração sobre o zen. O que me fez desenvolver respeito e interesse. Até então, qualquer matéria ligada ao "budismo", era apenas mais religião. "Coisa de batchan". Algo pelo qual não nutria muito interesse (muito embora tenha memórias de curiosidade pelas imagens de arte antiga que se encontrava em enciclopédias empoeiradas, desde a primeira infância - algo do período gandhara, estátuas mantendo mudrás e ásanas, velhas representações indianas, iconografias).
Lembro, desde criança, de experiências cômicas ligadas a visitas aos "oterás", os templos budistas que no Brasil são quase que apenas frequentados por pessoas mais velhas, imigrantes e descendentes de imigrantes japoneses. Não é incomum que quase todos só falem japonês nas reuniões e que o responsável seja um missionário estrangeiro. Lembro de cenas como meus tios roncando e eu e meus primos nos segurando para não explodirmos em risadas, ao escutarmos o sacerdote entoando sutras de modo, para nossa percepção, algo exagerado.
O zen me interessou por causa da literatura, por não eliminar a verificação dos fatos e a lógica (os sutras dizem: teste por si mesmo, não confie em nenhuma autoridade, teste um ensinamento como quem verificao ouro no fogo), embora reconheça um limite para o papel da racionalidade como fator único, absoluto, para a apreensão da realidade. "
O que convencionamos chamar de "pensamento oriental", também a educação dentro das artes marciais japonesas tradicionais, atribui AOCORPO um papel fundamental. Corpo e mente são interdependentes.
"Corpo-mente".
Não espanta que, hoje, alguns estudiosos reconheçam no budismo vindo da Índia influências não só para o campo da filosofia grega antiga, mas também para o método científico moderno, para as matemáticas e as ciências do comportamento e da mente contemporâneas. Assim segue, conforme vai sendo alterado o paradigma da Grécia como berço oficial da ideia de "filosofia", do "verdadeiro pensamento racional e investigativo". Havia pensamento no oriente antigo, assim como em países africanos em tempos ainda mais remotos, em tribos indígenas ancestrais, altamente desenvolvido, apenas foi propositadamente deslegitimado, estrategicamente apagado pelos invasores. Enfim, algo dos debates atuais das ideias.
Não pratico o zen como religião. Embora possa ser compreendido também de tal maneira. Não acredito em reencarnação. Não acredito em renascimento (que é diferente de reencarnação). Nunca tive alguma percepção muito especial sobre os temas, poderia dizer. Também não deixo de dormir à noite tentando refutar conceitos tão antigos, anteriores à civilização e pensamento ocidentais. O mesmo para conceitos complexos como "karma", que pode ser compreendido, de forma básica, como a boa e velha dupla "causa e efeito".
Quanto à prática, um cristão, caso queira, pode se tornar um melhor cristão. Um melhor mulçumano, da mesma maneira, etc, através do zen. Ou alguém pode se tornar um melhor ateu. Ou mesmo todos podem permanecer como preferirem, podem permanecer em suas tradições sem se preocupar com nada disso. Simplesmente porque não há proselitismo nessa arte antiga (ou: não deveria haver). Os melhores praticantes que pude conhecer sempre optam por serem discretos. Icônica a passagem de Shakyamuni - algo talvez um pouco engraçado que nos faz refletir - depois da experiência do satori, ponderando que as pessoas, de modo geral, não vão se interessar pelo seu ensino. O Buda histórico teria considerado adentrar o Nirvana em silêncio. O grande caminho para a paz mental não parece muito interessante ou fácil de ser atingido. Paraísos celestes, vida eterna e incapacidade de desenvolver desapego, por exemplo, surgem como opções melhores para a maioria das pessoas. Não mudou muito, quanto a esses aspectos, de dois mil e seiscentos anos para cá. Enfim, quanto aos professores, nunca conheci um que me pareceu realmente digno de nota que fosse famoso, youtuber, ganhasse muito dinheiro fazendo palestras, coisas do tipo.
Compreendo o zen, o budismo e as antigas técnicas de meditação do oriente como conjuntos de técnicas que formam uma milenar "ciência" da mente. E estudiosos modernos do campo das pesquisas neurológicas, da psicologia e da psiquiatria parecem concordar. Tanto que há modas, hoje, no ocidente, ligadas ao "mindfulness", por exemplo. Dentre outros fenômenos que, não raro, visam transformar em mercado tudo que ainda couber na prateleira do "exótico".
Frequentei por uns sete anos o zazenkai (encontro para prática de zazen), no Busshinji do Paraná.
Todas as semanas chegava, arrumava a sala de meditação (zendô), varria o chão, fazia o zazen, e no final tomávamos chá e conversávamos.
Quase nunca se discutia sobre teoria budista. "Quem fala, não sabe", segundo o Tao. Foco maior sempre na prática. O treino no zen é sem palavras. Deriva do convívio direto com seus professores. E cada um, dentro do possível, acaba por encontrar e permanecer com aqueles professores com quem sente mais afinidades.
Não existe uma centralização hierárquica definitiva, absoluta. Quero dizer, posso discordar completamente da metodologia (e da realização) de mestres de outras linhagens dentro da soto e ao mesmo tempo conviver com todos respeitosamente dentro da comunidade de praticantes. E, fato óbvio, só posso falar do zen que recebi, quer dizer: apenas posso falar e recomendar aqueles professores com quem convivi diretamente. Talvez setenta por cento de tudo que chamam de "zen", "budismo", "três veículos", hoje em dia, simplesmente não me interessa. Fora a grande fatia do que é enganação e pode ser pernicioso. Nunca cansaria de alertar possíveis interessados por meditação (e artes marciais tradicionais) que é difícil encontrar bons professores, ainda mais ultimamente, que quase todos se dizem "monges", "mestres". A melhor atitude é ser sempre bastante desconfiado e procurar pesquisar minuciosamente a linhagem de professores do professor que por ventura você possa vir a escolher (fato que rememoro: era particularmente tão desconfiado ao ponto de exalar mesmo tal insegurança. Numa bela ocasião, Saikawa Roshi, depois de quase um semana num retiro, fazendo vários dokusans, possivelmente sentindo o cheiro disso, simplesmente sentou quase um dia inteiro no zazendô - das 4 da manhã até quase nove da noite - sem se levantar do zafu (almofada). Um senhor (à época) na faixa dos sessenta anos. Handa-san, seu assistente, virou para mim e sussurrou, brincalhão: "ele está dormindo". Bom, depois de testemunhar algo assim, passou a ser inegável que alguma técnica séria estava envolvida nisso tudo. Algo não diferente de alunos de artes marciais que em alguma ocasião especial testemunham um golpe, um movimento impressionantemente refinado, ou um pintor, um calígrafo que traça algo com enorme naturalidade e beleza, algo que muito mais do que um longo discurso, demonstra, de forma direta, a seriedade da técnica.
No Busshinji do Paraná, à época em que Morioka-san ainda não havia recebido a ordenação monástica, recebi a investidura leiga (registro de transmissão da linhagem de professores) do abade J. Kurosawa (hoje residente em Shizuoka).
Paralelamente, por uns cinco anos, também frequentei outro zazenkai dirigido por E. Fujiwara. Menos formal, ligado aos alunos do monge Ryotan Tokuda Igarashi. Tokuda-sensei estudou com renomados professores do século vinte, como Sogen Asahina e Kodo Sawaki. Ele teve/tem uma importância fundamental, indiscutível e inapagável, para a transmissão do zen no Brasil, embora, hoje, não seja uma pessoa tão conhecida fora do pequeno círculo do zen nacional. Não o conheci pessoalmente (há anos está morando na França), mas estudei e estive em várias ocasiões com alguns de seu alunos, por isso também o considero um de meus professores.
Realizava os meus dokusans durante os Sesshins (retiros) com Saikawa Roshi, que foi sacerdote theravada por um tempo antes de ir para a escola Soto. Ele trabalhou junto de monges como Maezumi Roshi, ligado à tradição de Harada Roshi e Yasutani Roshi (fundadores da Sanbô Kyodan - uma vertente bastante crítica ao fenômeno da profissionalização dos monges no mundo contemporâneo). Desse contato, suponho, resultou algo de sua técnica que se assemelhava a koans. Diferente do que pensa o senso comum, por vezes da mesma maneira a academia e seus intelectuais que na verdade, no geral, só sabem do "budismo oriental" aquilo que leram de filósofos ocidentais como Schopenhauer e Nietzsche (que absorveram o que puderam em suas épocas através de, não raro, traduções bastante duvidosas), koans também são usados no treino da Soto e não apenas no Rinzai.
Tudo varia e depende, no zen, da linhagem e do seu professor. Ou professores - não precisa haver uma filiação absoluta a um apenas, tanto que peregrinações para treinar com outros roshis sempre foram bastante comuns, inclusive na literatura clássica.
Segui a prática, portanto, depois de minha primeira Universidade, frequentando o Busshinji de SP, fazendo retiros periódicos e dokusans.
Não encontro a Sangha desde o início da pandemia. Algo que, espero, se modifique agora que estamos numa situação mais segura. Também porque não resido em São Paulo. Embora parte de minha família seja da capital e vá para lá com alguma frequência todos os anos desde criança.
Tive uma sorte enorme e imerecida, durante meu caminho no zen. Alguns dos monges e praticantes que conheci não só me ajudaram espiritualmente, mas algumas vezes, até mesmo materialmente, doando samuês (vestimentas formais) e/ou financiando custos para permanência em retiros. Sempre serei imensamente agradecido pelos bons encontros que ocorreram.
Hoje, depois de ter metade de minha vida dedicada ao zazen, não sei como é viver sem o dharma. Acho curioso pensar a respeito, pois passa a ser algo que te acompanha em todas as atividades do cotidiano. Sigo dizendo que não conheço nada no campo do pensamento e práticas ocidentais como a experiência do zen. Embora trate de algo que esteja também, indubitavelmente, presente no campo das artes, da música e da curiosidade humana de modo geral.
Poucas coisas são tão comuns e nos irmanam a todos como o mistério, a insatisfatoriedade e as grandes questões sobre vida/morte (sei que existem tradições meditativas e outros exemplos no ocidente, mas não tenho muito conhecimento sobre tais tradições).
Michel Foucault, grande filósofo francês, de pensamento representativo da sensibilidade da contemporaneidade, segundo consta, esteve alguns dias junto de alguns monges, convivendo e partilhando de seu dia a dia e fez declarações sobre a sensação de originalidade de sua experiência: pode ficar aqui como uma dica de pesquisa muitíssimo mais interessante sobre o assunto.
vales cerrados
em meio ao alegre carnaval
entoam dharma
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É uma convenção antiga, uma atitude ética, que qualquer um que fale sobre zen ou conceitos relativos à prática aponte suas fontes e professores. Não é possível treinar o zen por conta própria, sozinho. O contato direto, durante anos, com professores é imprescindível. E a sangha sempre tem um papel fundamental.
Gasshô.
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*composição nossa - variados timbres de cello (instrumentos de samples e modelagem sonora), silêncios & pandeiro; estará disponível em áudio de alta qualidade em disco ainda a ser lançado