segunda-feira, 20 de maio de 2024





another brick in the wall

provavelmente não muitas pessoas estão juntando sludge, jazz e noise com poesia concreta/sonora, bossa nova e música brasileira. elementos que para alguns e para certas sensibilidades, não deveriam combinar. mas é possível através da nossa boa e velha antropofagia. e existem, é claro, as formas e as combinações mais óbvias, muito mais digeríveis e compartilháveis - que não me interessam tanto. mas, há muito tempo e cada vez mais, não são as tentativas de invenção e originalidade que importam. definitivamente. ao menos não as mais radicais.
triunfa o mais do mesmo vendável para um público condicionado que nem mesmo sabe o quanto é condicionado. 

tudo é programado. 

& as pessoas ainda temem a inteligência artificial. já somos, todos, quase robôs. a máquina já venceu há muito tempo. 

sempre repito (nos últimos 15 - ou mais anos), o triunfo do capitalismo é total. as gerações mais novas, cada vez mais, não conseguem enxergar qualquer valor no que não produza grana e benefícios particulares. qualquer coisa fora disso é visto como coisa para otários ou completos lunáticos. 

o que escrevemos e criamos só chega a meia dúzia de pessoas. que no geral nem mesmo possuem muito tempo para conferir, ocupadas com seus afazeres e a correria cruel da sobrevivência.
triunfa a indiferença e o egoísmo no sistema atual (todos sabem, ou deveriam saber). as fake news sobre os novos hypes, as tragédias e as catástrofes. e as pessoas são cada vez mais "ludibriáveis", completamente fechadas em suas bolhas, no individualismo ("eu é que não tenho nada a ver com isso"; "cada um com seus problemas"; "cada um no seu quadrado"). 

nunca houve tanto acesso a informação E AO MESMO TEMPO a informação nunca foi tão controlada. 
"saber que não se sabe", o passo mais importante e fundamental para a aventura do saber é hoje algo não praticado, algo desinteressante. a maioria vive na mais profunda certeza, na fé mais inabalável. "só não se sabe fé em quê". 

provavelmente quase ninguém lerá esta nota. 
fora ser completamente impopular, meu conteúdo é bloqueado porque além de ser um underground sem cura também tenho a petulância de falar de política. no entanto, desde que comecei, sempre tive para mim, firmemente, que a derrota verdadeira seria obter qualquer reconhecimento que fosse por algo em que não acreditasse, que não fosse de fato a expressão do que sou e sinto. já toquei na noite profissionalmente. já recebi convites para todo tipo de projeto. já fui roadie de banda sertaneja (pra tirar algum dinheiro - e fui despedido porque não me juntava à equipe para rezar em grupo para "não ter acidentes durante as viagens e  apresentações" - hehe). conheço o outro lado e quero distância disso.

antes ser o monge louco que fala sozinho e compõe para o vento (uma tradição, aliás, na verdade bastante nobre, que inclui grandes mestres do zen antigo que muito admiro e nos quais me inspiro) do que ser apenas mais um, outro tijolo no muro - "another brick in the wall". sem qualquer noção do que de fato contribui para a real e completa destruição do planeta e dos valores que convencionamos chamar de "humanos". 

os moedores de carne jamais foram tão bem-sucedidos.

não estou sozinho em minha "derrota". estou do lado dos que considero os mais valorosos. fervo de orgulho e satisfação. 

& assim sigo.