quinta-feira, 16 de janeiro de 2025

Poema das obviedades - 

VIII (Lacanianas)


Você pode até bem saber

O que escreveu 

O que disse

O que tentou expressar

Do mais profundo

Das entranhas 

Mas nunca 

Nunca sabe 

O que o outro escutou


A verdadeira traição 

A traição de fato

A traição imperdoável 

É trair a si mesmo


Os amantes por mais que tentem jamais farão um


Cada um que se vire

Com seu próprio desejo

Se responsabilize

Melhor o reconhecimento 

Do próprio desejo 

Do que a eterna repetição 

Infantil e inútil da busca 

pelo reconhecimento dos outros


Há algo em outras culturas

Como a japonesa, por exemplo, 

talvez jamais analisável 

Os japoneses (antigamente, 

qd de fato eram japoneses)

Nunca pedem 

Nunca pedem para serem servidos 

Muita grosseria 

Sempre o outro que serve o convidado

Do contrário permanecem em silêncio 


Ilusão de que não somos todos, afinal, completamente solitários

Aprisionados num "eu" com nossos mundos mentais


A certeza é o terreno da fé

Mas ainda restam dúvidas

A certeza absoluta é a posição do paranóico


Amar é dar aquilo que não se tem