Poema das obviedades -
VIII (Lacanianas)
Você pode até bem saber
O que escreveu
O que disse
O que tentou expressar
Do mais profundo
Das entranhas
Mas nunca
Nunca sabe
O que o outro escutou
A verdadeira traição
A traição de fato
A traição imperdoável
É trair a si mesmo
Os amantes por mais que tentem jamais farão um
Cada um que se vire
Com seu próprio desejo
Se responsabilize
Melhor o reconhecimento
Do próprio desejo
Do que a eterna repetição
Infantil e inútil da busca
pelo reconhecimento dos outros
Há algo em outras culturas
Como a japonesa, por exemplo,
talvez jamais analisável
Os japoneses (antigamente,
qd de fato eram japoneses)
Nunca pedem
Nunca pedem para serem servidos
Muita grosseria
Sempre o outro que serve o convidado
Do contrário permanecem em silêncio
Ilusão de que não somos todos, afinal, completamente solitários
Aprisionados num "eu" com nossos mundos mentais
A certeza é o terreno da fé
Mas ainda restam dúvidas
A certeza absoluta é a posição do paranóico
Amar é dar aquilo que não se tem