Memória Mãe das Musas
Enquanto vive
Se encha de alegria
Vida breve
Porque Tempo
Cobra um fim
https://youtu.be/Cm1aPxOORrs?si=zaKKLV15_OqUGynw
https://revistamododeusar.blogspot.com/2014/05/epitafio-de-seik
ilos.html?m=1
borbotão
as luas em tua pele despem esguelhas tais metais como suores-ócios possíveis consegues constelar toda alacridade firmes calhaus de véus vermelhos visgos vigos ao entardescer todos os ah! helenas que te compõe os seios estivadores conduzindo as carnes do fogo de doze sóis kinich ahaus tonatiuhs apu intis akhenaton e nefertiti rás de rá entre adornos de mur-ais em tua pele verões sem nunca esvair tais pares em mim sempre lhe defraudam de braços de grosseiros brutamontes mais ahs! quando beijas e largas os lábios abertos nas águas os lagos entrepernas vitríolos gotejam das sombras quando se despe penumbras rutilantes destradas d'óleos infindos celeuma dos sentidos frestas festas de prata e marfim elísios entre asfaltos e flores de enxofre enlevos em meio a lentos lenços lençóis de areias com ganges eternos onde não há corpos que lavar tornados iluminuras de espumazul contra céus de alúmen luminosos como noites róseas flúmens de fluídos quentes ferventes como o gelo dos pólenes a novastars explodindo ouros fúcsias tuas saias diamantas nos detalhes de anseios já paraísos não mais exéquias sem babéis tua língua clara dos sinos de sins ramos mais elevados das maçãs também do rosto fino flau aniz sem anos infindo altos gerifaltos além atrozes tornados no ar albatrozes livres coleios de najas cujos venenos mais doces que os vergéis de peiotes velozes vênus nas veias aurora verdes nos líquens combalidos siderados finalmentes impérios de afélios derrubados salvestrelas soar e suores destrelas folguedos de alfaias em pratas rutilantes após poucos passos o paço de nimbus carregados presentes perpétuos eros faz calar todo oráculo o som-nho e sumo e sumos novamente sem babéis tua língua clara dos sinos de sins
Poema das obviedades I - V:
melô do humano
"É perigoso despertar
as pessoas dos seus sonhos"
(frase de para-choque de caminhão)
uma pessoa sincera incomoda muita gente
uma pessoa sincera e com alguma inteligência incomoda incomoda muito mais
uma pessoa sincera e com alguma inteligência incomoda muita gente
uma pessoa sincera com alguma inteligência e dotada de um bom coração incomoda incomoda incomoda muito mais
uma pessoa sincera com alguma inteligência e dotada de um bom coração incomoda muita gente
uma pessoa sincera com alguma inteligência e dotada de um bom coração se alcançar popularidade será perseguida e crucificada
amódio
qd as pessoas
se apaixonam
ou te amam
(e todo amor
tem mais a ver
com as idealizações
do próprio amante
do que com o
sujeito real
que coube -
sabe-se lá pq -
no idealizado
uma ilusão
de fato
um circuito
fechado)
e não conseguem
o que foram buscar
(seja lá o que for)
triplifica ao quadrado
ao cubo ao infinito
o desejo profundo
de te verem matado
poema das obviedades - XXXI
"Nothing mundane is divine;
Nothing divine is mundane"
(marianne moore)
só gente ferrada co´a vida pode propor/fazer alguma arte
gente adaptada só produz estalinhos de entretenimento
traques bombinhas biribinhas track tracks mixurucas
arrotos diários em massa como numa linha de montagens quantidade
no picture is made to endure nor to live with but
rápido instantâneos nada estranhos normaloidiotas de covardes UFOs de cortinas de fumaça toddy todo dia mummmmy mommy sugar daddy
verde-amarelo-azuln@zi-de-morango rosa deusbençôa e chocolate docinho facinho kawaii sorri
para o alegramento das multidões dos igualmente vis vãos uowa! e tititi
& tititi $<3 (★^O^★)
A letter to a young person
(I should write this in nihongo. But my english is less horrible than my nihongo. Hountou ni sumimasen!)
Blaming others because you are in love is completely stupid.
Others just like you and everyone else are just living inside a particular mind.
People NEVER, NEVER know what is inside another person's mind.
NEVER blame.
You never know what someone else is going through. Everyone you meet is fighting a battle you know nothing. You never know the serious difficulties someone must be strugling with (especially those who live in poor countries).
Again: the other just exactly like you and everyone else is someone living inside a particular mind AND WILL NEVER see things (or the universe) exactly like you do.
Each human being is an entire different universe from others.
Don't blame, don't attack. Don't play games or you WILL create confusion and you WILL loose all.
Blaming others for the loss of control love creates is what men have been doing against women since the beginning of times, for example (and women can do it too). This disgusting atrocity. Please try to study about Feminism and the history of mankind: it's totally important for everybody.
If you really like someone and the person like you too just GO NOW try to live together. Do NOT waste a second doing any other thing.
Especially important: try to create some form of COMMUNICATION. Without direct communication love will NEVER happen don't matter HOW STRONG it is for the people involved.
NEVER feel ashamed for things you don't know. "A perfect education", "perfect parents" these things do NOT exist. Everybody have lacks of knowledge in some aspects. There is no such a things like "a perfect person". Everybody have limitations. But we can learn together.
(Sorry for my bad english).
Gambatte kudasai!
Q bom é o desbunde
De aproveitar as férias
Depois duns passeios legais
Muito Bloodborne tb (remasterizado e pirateado pela/com a boa & alegre comunamiga - algo como os merry men de Sherwood (dividam a madeira!), os parça - salve, Diego e tantos outros!)
Trombar uns quebrada das antigas pelo interior de sp
E também praticar a boa e necessária arte da
DIATRIBE
(mei sei shonagon tá o bagui)
Fiquem atentos, camaradas
Talvez role mais
Se sobrar tempo enquanto também bolo
uns sons novos
amanhece; e isso nunca é pouco
stay tuned
sem gomen
para gouman:
gomi
傲慢
Se tem algo
Que todo
Praticante
De budô
Sempre soube
Há milênios
Desde a Índia antiga
Desde África
Sempre precisou saber
Ora bolas
É: lidar com a raiva
Que também envolve
Descer a caralha
(Mesmo que a simbólica apenas
Obviamente)
Em quem precisa
Enxergar o limite
& Salve, Rinzai!
Mas, claro, que os brancos psicanalistas sabem melhor sobre isso. Inclusive quando confundem o kitsch que regurgitam de suas colônias (colônias também de pensamento) com as culturas que ajudaram/ajudam a destruir. Aí ensinam o que é candomblé para o povo de santo. $nsinam o que é o budismo para os budistas. Declaram que "o sexo transcende o nirvana". Ensinam o que é o nirvana para os Budas. Precisam "eliminar a concorrência". Nem um baseado pode. O homem branco, seus mandatários, é quem sabem Tudo. Sempre. Mesmo que se declarem não religiosos, ateus, são, na realidade, os eternos missionários (assassinos) de Deus. Será esta uma questão sócio-histórica &... inconsciente? (Sou também ateu, heterossexual, e lido como branco. No entanto, tento procurar pesquisar sobre o que posto em redes sociais e falo por aí). Não têm nunca noção da própria arrogância, do próprio completo ridículo.
Tentar apreender o real completamente (S2 - a; ou melhor, quem sabe, seria: $2 - a), por exemplo, dizendo uma asneira como "o sexo transcende o nirvana", psicanalista pagando de discurso universitário, ditatorial, alguém que nunca deve ter feito um retiro de zazen na vida, só irá causar angústia para si e revelará a incompetência do sujeito, prepotente. Nada diferente dum obsessivo precisando mensurar a "eficácia" da psicanálise com suas réguas autoritárias e visões limitadas, no delírio de uma ciência que fosse absoluta (ditada por Deus?). Isto é, para simplificar sem lacanês: vai dar merda.
Gasshô.
THE PATTERNS
mais sobre obviedades (ou o que deveria ser) -
arte NÃO é esporte nem nunca será.
até poucas décadas, enquanto ainda reverberava mais a contribuição do punk rock, músicos evitavam excesso de técnica para se manterem fiéis a aspectos como atitude, visão crítica, etc. característas tão ou mais importantes do que saber formar acordes com precisão ou saber dedilhar perfeitamente um violão. lembro dum projeto dos mais interessantes que já pude conferir de artistas japoneses que montaram uma banda sendo que nenhum deles jamais havia adquirido qualquer conhecimento formal a respeito de seus instrumentos. intuição quase pura, algo realmente inovador. kurt cobain dizia que evitava estudar música para sempre poder dar mais ênfase ao feeling, à sinceridade da crueza punk.
o rock and roll de maneira geral foi a grande oposição da música popular à concepção da música erudita. "roll over beethoven", diria o grande chuck berry.
curioso como, por exemplo, artistas como jeff buckley nos anos noventa foram eclipsados, pois, tecnicamente, ele foi o melhor músico e o melhor cantor de sua geração.
a ideia de que obrigatoriamente se deve ser o melhor em nível técnico é velha e completamente fascista. só em tempos como estes em que vivemos atualmente, de ascensão do pior do pior do nazifascimo (que, aliás, em muitos sentidos, é uma teoria estética), em todo mundo, se poderia cogitar um atraso desses. as grandes contribuições da arte moderna e das vanguardas, que foram alvos dos nazistas nos tempos da segunda guerra, tendem a ser apagadas. trata-se de mais um dos atestados de que o capitalismo triunfa totalmente. de que nada que realmente contenha uma alma mereça existir, pois o ter vale sempre mais do que o ser para o sistema.
existem razões políticas muitíssimo claras para que certos artistas jamais tenham seu trabalho amplamente divulgado. só pode triunfar quem não oferece qualquer perigo ou que seja um completo imbecil. uma das propagandas mais fundamentais da mentalidade reacionária é fazer crer que devemos ignorar a política. embora absolutamente tudo na vida do ser humano envolva a política, mesmo que os cidadãos, sobretudo os mais abastados, mais tranquilamente possam ignorar tudo isso.
sempre achei que tais compreensões fossem óbvias. definitivamente não são. estamos atravessando um período conturbado e muito obscuro. e uma das armas principais do sistema é manter todo mundo acreditando que está tudo bem. que sigam sendo um bando de egoístas, individualistas. que se preocupem apenas com a subsistência, com o mais básico do básico, como qualquer animal que só se preocupa com alimentação e algum conforto, jamais com refletir e criar beleza artística. beleza para além do óbvio e do tempo. qualquer animal sabe acumular para ter seu sustento, qualquer animal pode dominar o conceito de "lucro". apenas o ser humano pode ir além da mediocridade do mero material. tudo deveria ser muito óbvio, mas padeço desse defeito grave de ter demorado demais para perceber o que estava acontecendo. estamos em tempos em que as pessoas voltaram a discutir se a terra é plana e se arte é esporte, duas idiotices que se equivalem.
a concepção de que sempre caminhamos para frente num eterno movimento de evolução da ciência e dos costumes é a mais pura balela. vivemos uma época de imenso e considerável atraso.
arte NÃO é esporte nem nunca será.
e ideais de "pureza", "limpeza" ou "perfeita perfeição" são papo pra boi dormir. não raro geradores de concepções higienistas, tais como as de um certo alemão, pintor clássico frustrado, que se envolveu com o poder e passou a ser chamado de "líder".
Poema das obviedades -
VIII (Lacanianas)
Você pode até bem saber
O que escreveu
O que disse
O que tentou expressar
Do mais profundo
Das entranhas
Mas nunca
Nunca sabe
O que o outro escutou
A verdadeira traição
A traição de fato
A traição imperdoável
É trair a si mesmo
Os amantes por mais que tentem jamais farão um
Cada um que se vire
Com seu próprio desejo
Se responsabilize
Melhor o reconhecimento
Do próprio desejo
Do que a eterna repetição
Infantil e inútil da busca
pelo reconhecimento dos outros
Há algo em outras culturas
Como a japonesa, por exemplo,
talvez jamais analisável
Os japoneses (antigamente,
qd de fato eram japoneses)
Nunca pedem
Nunca pedem para serem servidos
Muita grosseria
Sempre o outro que serve o convidado
Do contrário permanecem em silêncio
Ilusão de que não somos todos, afinal, completamente solitários
Aprisionados num "eu" com nossos mundos mentais
A certeza é o terreno da fé
Mas ainda restam dúvidas
A certeza absoluta é a posição do paranóico
Amar é dar aquilo que não se tem
se o zen fosse a morte absoluta dos pensamentos e dos sonhos não haveria tanta literatura... zen. e a poesia e tantas outras artes orientais não teriam nascido justamente nos mosteiros.
as pessoas seguem achando que budismo é o que elas leram por intermédio de sabe-se lá quem e não algo vindo do outro lado do planeta. tal incompreensão e preconceitos também são de responsabilidade dos "mestres eleitos", que, no geral, apenas espelham os clichês do que seus alunos querem ver num professor. talvez os professores mais populares por aí não sejam os melhores. algo que se aplica também à produção artística e a tantas outras áreas. "a voz da maioria" nunca é a voz de deus, todo grupo é narcísico e punitivo com o diferente; a maioria, na maioria das vezes, está chafurdando no erro e nos preconceitos.
gasshô.
poema das obviedades - XII
zazen não é sentar e saber
zazen é sentar e só ser
o imperador que se achava e se dizia grandioso budista perguntou a bodidarma "quem é você?"
que respondeu: "eu não sei"
e partiu
comentário: os ocidentais não entendem isso até hoje. os grandes (e, não raro, endinheirados intelectuais herdeiros de kant) estudiosos. não há amor maior do que apenas ser. quem sabe?
poema das obviedades - IX
(primeira versão)
Sempre há algo que não se sabe
Sempre há algo de não saber
Nunca falta nunca faltará
para ninguém
em todo universo
algo que não se sabe
Ridículo e triste
Talvez sobretudo ridículo
Quem-tudo-sabe
Toda e qualquer religião
Psicotontos tentando
Encaixar pessoas
tão diversas em suas teorias
Todo preconceituoso
Horroroso cheio de ideias
Certas de quem é o outro
E o que deseja o que deveria
Sempre há algo que não se sabe
Sempre há algo de não saber
Nunca falta nunca faltará
para ninguém
em todo universo
algo que não se sabe
Bastante satisfeito com a felicidade coletiva gerada pela vitória do Globo de Ouro de Fernanda Torres, uma das maiores atrizes que o país já produziu. Ela que também atuou em "O que é isso, companheiro".
A película transmite muito bem a atmosfera e sensações do que foi o período completamente nefasto da ditadura empresarial-militar, mesmo que apenas do ponto de vista de uma família abastada. Retrata o tipo de coisa que aconteceu com muitas pessoas à época. Tempos de horrores, cujos agentes nunca foram punidos, e que alguns clamam que retornem. E infelizmente os mecanismos de embuste para que algo assim seja possível já estão sendo instalados novamente. Um exemplo: mister M. Zuckerberg em seu anúncio de que sua plataforma de mídia social não terá qualquer filtro para conter espalhamento de notícias falsas em massa. Tudo em nome da falácia que chamou de "liberdade de expressão", que na verdade significa esconder fatos, esconder a história e dar livre circulação a mentiras (da mesma maneira como antes e ainda hoje escondem cadáveres). Tudo por dinheiro e poder, as velhas pautas preponderantes de nosso sistema. Num contexto assim, obras como a baseada no livro de Marcelo Rubens Paiva, ganham ainda mais importância.
"Ainda estou aqui" é um filme muito bom, indicadíssimo para quem quer começar a entender o que de fato foi o período que fez parte do que gerou os nossos tempos atuais. Suas conquistas são também algo que beneficia o combate às atrocidades impunes cometidas no passado, que sinalizam cada vez mais quererem retornar com toda força. Mostra como viver no Brasil com consciência de nossa realidade, ao contrário de outras pessoas amortecidas e/ou vis, segue sendo um conjunto de lutas necessárias, entre elas a batalha perene pela memória.
A voz do povo
Não é a voz de Deus
A voz do povo
No nosso sistema
Infelizmente
É a voz do patrão
Que se impõe
À força da mesma
Maneira como um
Senhor de escravos
E há explorados
Que se apaixonam
Pelo patrão
E o sonho do oprimido
É tornar-se o opressor
E Dante e Safo sempre serão
Muito mais preciosos do que
A Praça é Nossa
E muitos grandes intelectuais
Psicanalistas e mestres zen
São apenas grandes idiotas
Charlatões ou malandros
O aquecimento global existe
A pandemia aconteceu
A vida não possui propósito
Muito menos sentido
E apesar de tudo
É a vida é bonita
E é bonita
ave, cioran
Todos (medíocres e igualmente feitos de carne) acham que podem salvar o outro. Com amor, moral, sabedoria, etc. Todos, se acham, de alguma forma, superiores. Mais. Mais esclarecidos, mais inteligentes, mais amados, mais capazes de amar, mais bondosos, mais humildes, mais fodidos... Mais lidos. Mais. Melhores do que o outro. Eis a raíz, maior, de todo mal. Do mal mais profundo.
Música Estranha
Não sabem
Quem lobo quem
É ovelha quem são
De onde para
Que?
É só tacar
Jesus
Pobre
Coitada
Em tudo
O outro
Que outro?
Não existe
E as ovelhas
Elegem
Os lobos
A banca
Da do boi
Da bíblia
Da bala
O matadouro
O açougue
Sempre
Sai
Ganhando
E dá-lhe
Queimada
E tolos
Os touros
O ouro
Contra
O vermelho
Sanguíneo
E Todo
Mundo
Está
Feliz
Aqui
Na terra
Todo
Mundo
Odeia
O Chris
Enri
quecem
O branco
Ideal
Alpha
Pompa
Livre
Assassino
Não só
De índios
Genocidas
Governam
É o pai
E gozam
O país
Round 1: Cioran
Não leio Cioran procurando verdades. Me diverte. Seu pessimismo é espirituoso. Causa alguma catarse. Contraditoriamente (pois se trata de alguém que escreve sobre as possíveis vantagens do inanimado), cheio de vida. Compreendeu muito melhor a tradição oriental (pela qual demonstrou bastante interesse) do que seus antecessores, Schopenhauer e Nietzsche. Muito por questões de tempo, geração. Perceptível em seus escritos que foi afetado pela moda do zen na Europa, na passagem para segunda metade do século XX (que mais girou em torno do Rinzai, praticamente ignorando Dogen e a Soto). Hoje, o zen, e parte do melhor do budismo voltaram a ser ignorados pelos intelectuais ocidentais ou são novamente completamente mal compreendidos, retornando, assim, às prateleiras do orientalismo vulgar.
Notável a atitude, por exemplo, de psicanalistas famosos, hoje em dia, que possuem a total falta de vergonha de falar e escrever sobre conceitos que claramente não compreendem.
Já há muito tempo existe a consciência de que foi necessário formular uma psicanálise nova, que, por exemplo, obviamente não utiliza mitos de origem greco-romana, para lidar com povos de outras tradições, outras construções imaginárias. Só no Japão, Heisaku Kosawa com seus estudos vinha discutindo estes aspectos mais ou menos desde a década de 20 do século passado.
Mas, como se sabe bem, a autoestima e a completa estupidez da pessoa branca de classe média é abissal. Vivem com seus óculos em formato de umbigo. Falam e escrevem asneiras preconceituosas e julgam a todos porque se entendem como os possuidores da verdade, sobre tudo e sobre todos os povos.
Vi uns tempos atrás uma completa idiotice sobre "o sexo transcender o nirvana", da parte de pessoa famosa e psicanalista (famosa inclusive por cobrar os olhos da cara por consultas). Como se fosse possível uma competição entre os dois termos. Como se fosse possível simplesmente pegar toda e qualquer tradição e colocar no mesmo lugar onde Freud colocou o monoteísmo judaico-cristão.
Nunca tive muita simpatia por Jung, mas este teve alguma noção da complexidade do assunto, quando se tratava do pensamento oriental, e era, de fato, muitíssimo mais culto do que Freud. Diferente dos contemporâneos de agora, sem vergonha de serem preconceituosos e ridículos.
Mas sucesso é medido, nos círculos dos psis, pelas conquistas materiais, financeiras, números de publicações, e não pelo cuidado com a elaboração de seus textos. Psi bom é psi YouTuber, nos dias de hoje. E podem falar qualquer asneira, a maior parte de seus seguidores e alunos nem vão perceber nada.
Mas voltando ao Cioran, que é o que de fato me interessa mais. Há passagens maravilhosas. Não vejo como não gostar dum sujeito que escreve sobre simplesmente deixar o satori de lado para seguir com seu passeio. Não demonstra uma ignorância ridícula e preconceituosa como no caso da pessoa que num gesto imbecil declara que o sexo transcende o nirvana. Como se o nirvana fosse (pasmem!) algum tipo de sensação especial. Como se o nirvana fosse algum tipo de... paraíso? Como se o nirvana fosse algo realmente a ser alcançado. Algum estado especial de êxtase que competisse com o orgasmo.
Fora exibir que nunca foi pesquisar sobre as palavras que utiliza, (mas talvez só se basear no que escuta de analisandos financeiramente privilegiados que consomem o pior do kitsch?) a pessoa nem parece saber que no oriente se desenvolveram inúmeras tradições (como o tantra e certas práticas taoistas chinesas e japonesas) que usam o sexo como forma meditativa, e que o estalinho mixuruca que o ocidental conhece como resultado de um coito nem se compara às profundas experiências de investigação sensorial dessas práticas. Em muitos sentidos (e Jung, novamente, parecia desconfiar disso em seu tempo) os pesquisadores ocidentais ainda engatinham onde não conseguem enxergar uma antiguíssima linha de pesquisa, cegos por suas epistemologias e preconceitos.
Cioran parece talvez ter atingido a enorme decepção com o mundo que é necessária (a grande desilusão, o que os antigos chamavam de "a mente que busca o caminho") para adentrar as vias do zen. Ou simplesmente utiliza a ironia de maneira formidável. Porque contrariando o budismo de boutique e monges influencers digitais idiotas, um verdadeiro budista é alguém completamente desiludido deste mundo das formas, transientes, impermanentes. Não que obrigatoriamente a pessoa vá abandonar tudo, raspar a cabeça e se encerrar num monastério (e há vários exemplos de grandes praticantes leigos na literatura desde os tempos do fundador), você pode permanecer na sociedade e aproveitar de tudo que ela oferece (no ocidente só são populares as tradições Brahmacharyas, que negam a sensualidade, no entanto existem outras, opostas) mas internamente há uma profunda constatação de que nada, absolutamente, no mundo, conduz ao fim da insatisfatoriedade - a tradução mais precisa para "dukkha", pois Shakyamuni nunca falou a palavra "sofrimento".
No entanto, num ato de honestidade e consciência, consciência talvez de que pertence a uma outra formação, Cioran prefere seguir seu passeio. Cioran é muito mais budista (inclusive escolhendo não seguir os ensinos do Buda), do que certos mestres contemporâneos em seus trajes esvoaçantes, no ocidente do século XXI, num calor de 40 graus.
A passagem é a seguinte:
"Enquanto passeava a uma hora tardia naquela alameda ladeada de árvores, uma castanha caiu aos meus pés. O barulho que ela fez ao rebentar, o eco que suscitou em mim, e um abalo desproporcionado trazido por aquele incidente ínfimo, mergulharam-me no milagre, na embriaguez do definitivo, como se já não houvesse mais perguntas, apenas respostas. Estava bêbado de mil evidências inesperadas, das quais não sabia o que fazer...
Foi assim que estive quase a atingir o sublime. Mas achei preferível continuar o meu passeio."
(cioran, do "de l'inconvénient d'être né", trad.: manuel de freitas)
“AVEC ARDEUR”
Dear Ezra, who knows what cadence is.
I’ve been thinking–mean, cogitating:
Make a fuss
and be tedious.
I’m annoyed?
Yes; am. I avoid
“adore”
and “bore”;
am, I
say, by
the word
(bore) bored.
I refuse
to use
“divine”
to mean
something
pleasing:
“terrific color”
for some horror.
Though flat
myself, I’d say that
“Atlas”
(pressed glass)
looks best
embossed.
I refuse
to use
“enchant”
“dement”;
even “fright-
ful plight”
(however justified)
or “frivol-
ous fool”
(however suitable).
I’ve escaped?
am still trapped
by these
word diseases.
No pauses,
the phrases
lack lyric
force;
sound caprick-like
Attic Afric
Alcaic
or freak
calico Greek.
(Not verse
of course)
I’m sure of this:
Nothing mundane is divine;
Nothing divine is mundane.
(marianne moore)
"gloria in excelsis deo