antes a sombra
do que dócil covardia solar
sento em silêncio
há os sons da noite
junto de todos os seres
amãeteraço
"I have nothing to say,
I am saying it,
and that is poetry
as I need it"
(John Cage)
Música:"Colisões"* (marcos t.)
H. Morioka foi a primeira pessoa que me ensinou formalmente o zazen. Não a via há muitos anos. A monja de cabeça raspada que aparece no vídeo curioso (abaixo deste texto) com a visita da, à época, princesa Mako ao Museu Histórico da Imigração japonesa, no PR. Ela também é praticante de Tai Chi, Chanoyu e Ikebana, professora aposentada (de educação física, se não me falha a memória) da Universidade Estadual de Londrina (onde fiz meu curso de Letras Modernas). A chamo carinhosamente de "mãe de Dharma". Lembro dela ainda com cabelos na altura dos ombros, sentada com naturalidade na posição do lótus inteiro (kekka fuza, 結跏趺坐), sempre afável e educada.
Antes, durante a adolescência, conhecia do zen apenas poemas de Bashô, Issa, Paulo Leminski. E aquilo que falavam alguns amigos mais velhos sobre o tema. Lembro de um especialmente que estava se formando em jornalismo. De temperamento greimasiano, leitor de Roland Barthes e dos estruturalistas franceses, falava com admiração sobre o zen. O que me fez desenvolver respeito e interesse. Até então, qualquer matéria ligada ao "budismo", era apenas mais religião. "Coisa de batchan". Algo pelo qual não nutria muito interesse (muito embora tenha memórias de curiosidade pelas imagens de arte antiga que se encontrava em enciclopédias empoeiradas, desde a primeira infância - algo do período gandhara, estátuas mantendo mudrás e ásanas, velhas representações indianas, iconografias).
Lembro, desde criança, de experiências cômicas ligadas a visitas aos "oterás", os templos budistas que no Brasil são quase que apenas frequentados por pessoas mais velhas, imigrantes e descendentes de imigrantes japoneses. Não é incomum que quase todos só falem japonês nas reuniões e que o responsável seja um missionário estrangeiro. Lembro de cenas como meus tios roncando e eu e meus primos nos segurando para não explodirmos em risadas, ao escutarmos o sacerdote entoando sutras de modo, para nossa percepção, algo exagerado.
O zen me interessou por causa da literatura, por não eliminar a verificação dos fatos e a lógica (os sutras dizem: teste por si mesmo, não confie em nenhuma autoridade, teste um ensinamento como quem verifica o ouro no fogo), embora reconheça um limite para o papel da racionalidade como fator único, absoluto, para a apreensão da realidade. "
O que convencionamos chamar de "pensamento oriental", também a educação dentro das artes marciais japonesas tradicionais, atribui AO CORPO um papel fundamental. Corpo e mente são interdependentes.
"Corpo-mente".
Não espanta que, hoje, alguns estudiosos reconheçam no budismo vindo da Índia influências não só para o campo da filosofia grega antiga, mas também para o método científico moderno, para as matemáticas e as ciências do comportamento e da mente contemporâneas. Assim segue, conforme vai sendo alterado o paradigma da Grécia como berço oficial da ideia de "filosofia", do "verdadeiro pensamento racional e investigativo". Havia pensamento no oriente antigo, assim como em países africanos em tempos ainda mais remotos, em tribos indígenas ancestrais, altamente desenvolvido, apenas foi propositadamente deslegitimado, estrategicamente apagado pelos invasores. Enfim, algo dos debates atuais das ideias.
Não pratico o zen como religião. Embora possa ser compreendido também de tal maneira. Não acredito em reencarnação. Não acredito em renascimento (que é diferente de reencarnação). Nunca tive alguma percepção muito especial sobre os temas, poderia dizer. Também não deixo de dormir à noite tentando refutar conceitos tão antigos, anteriores à civilização e pensamento ocidentais. O mesmo para conceitos complexos como "karma", que pode ser compreendido, de forma básica, como a boa e velha dupla "causa e efeito".
Quanto à prática, um cristão, caso queira, pode se tornar um melhor cristão. Um melhor mulçumano, da mesma maneira, etc, através do zen. Ou alguém pode se tornar um melhor ateu. Ou mesmo todos podem permanecer como preferirem, podem permanecer em suas tradições sem se preocupar com nada disso. Simplesmente porque não há proselitismo nessa arte antiga (ou: não deveria haver). Os melhores praticantes que pude conhecer sempre optam por serem discretos. Icônica a passagem de Shakyamuni - algo talvez um pouco engraçado que nos faz refletir - depois da experiência do satori, ponderando que as pessoas, de modo geral, não vão se interessar pelo seu ensino. O Buda histórico teria considerado adentrar o Nirvana em silêncio. O grande caminho para a paz mental não parece muito interessante ou fácil de ser atingido. Paraísos celestes, vida eterna e incapacidade de desenvolver desapego, por exemplo, surgem como opções melhores para a maioria das pessoas. Não mudou muito, quanto a esses aspectos, de dois mil e seiscentos anos para cá. Enfim, quanto aos professores, nunca conheci um que me pareceu realmente digno de nota que fosse famoso, youtuber, ganhasse muito dinheiro fazendo palestras, coisas do tipo.
Compreendo o zen, o budismo e as antigas técnicas de meditação do oriente como conjuntos de técnicas que formam uma milenar "ciência" da mente. E estudiosos modernos do campo das pesquisas neurológicas, da psicologia e da psiquiatria parecem concordar. Tanto que há modas, hoje, no ocidente, ligadas ao "mindfulness", por exemplo. Dentre outros fenômenos que, não raro, visam transformar em mercado tudo que ainda couber na prateleira do "exótico".
Frequentei por uns sete anos o zazenkai (encontro para prática de zazen), no Busshinji do Paraná.
Todas as semanas chegava, arrumava a sala de meditação (zendô), varria o chão, fazia o zazen, e no final tomávamos chá e conversávamos.
Quase nunca se discutia sobre teoria budista. "Quem fala, não sabe", segundo o Tao. Foco maior sempre na prática. O treino no zen é sem palavras. Deriva do convívio direto com seus professores. E cada um, dentro do possível, acaba por encontrar e permanecer com aqueles professores com quem sente mais afinidades.
Não existe uma centralização hierárquica definitiva, absoluta. Quero dizer, posso discordar completamente da metodologia (e da realização) de mestres de outras linhagens dentro da soto e ao mesmo tempo conviver com todos respeitosamente dentro da comunidade de praticantes. E, fato óbvio, só posso falar do zen que recebi, quer dizer: apenas posso falar e recomendar aqueles professores com quem convivi diretamente. Talvez setenta por cento de tudo que chamam de "zen", "budismo", "três veículos", hoje em dia, simplesmente não me interessa. Fora a grande fatia do que é enganação e pode ser pernicioso. Nunca cansaria de alertar possíveis interessados por meditação (e artes marciais tradicionais) que é difícil encontrar bons professores, ainda mais ultimamente, que quase todos se dizem "monges", "mestres". A melhor atitude é ser sempre bastante desconfiado e procurar pesquisar minuciosamente a linhagem de professores do professor que por ventura você possa vir a escolher (fato que rememoro: era particularmente tão desconfiado ao ponto de exalar mesmo tal insegurança. Numa bela ocasião, Saikawa Roshi, depois de quase um semana num retiro, fazendo vários dokusans, possivelmente sentindo o cheiro disso, simplesmente sentou quase um dia inteiro no zazendô - das 4 da manhã até quase nove da noite - sem se levantar do zafu (almofada). Um senhor (à época) na faixa dos sessenta anos. Handa-san, seu assistente, virou para mim e sussurrou, brincalhão: "ele está dormindo". Bom, depois de testemunhar algo assim, passou a ser inegável que alguma técnica séria estava envolvida nisso tudo. Algo não diferente de alunos de artes marciais que em alguma ocasião especial testemunham um golpe, um movimento impressionantemente refinado, ou um pintor, um calígrafo que traça algo com enorme naturalidade e beleza, algo que muito mais do que um longo discurso, demonstra, de forma direta, a seriedade da técnica.
No Busshinji do Paraná, à época em que Morioka-san ainda não havia recebido a ordenação monástica, recebi a investidura leiga (registro de transmissão da linhagem de professores) do abade J. Kurosawa (hoje residente em Shizuoka).
Paralelamente, por uns cinco anos, também frequentei outro zazenkai dirigido por E. Fujiwara. Menos formal, ligado aos alunos do monge Ryotan Tokuda Igarashi. Tokuda-sensei estudou com renomados professores do século vinte, como Sogen Asahina e Kodo Sawaki. Ele teve/tem uma importância fundamental, indiscutível e inapagável, para a transmissão do zen no Brasil, embora, hoje, não seja uma pessoa tão conhecida fora do pequeno círculo do zen nacional. Não o conheci pessoalmente (há anos está morando na França), mas estudei e estive em várias ocasiões com alguns de seu alunos, por isso também o considero um de meus professores.
Realizava os meus dokusans durante os Sesshins (retiros) com Saikawa Roshi, que foi sacerdote theravada por um tempo antes de ir para a escola Soto. Ele trabalhou junto de monges como Maezumi Roshi, ligado à tradição de Harada Roshi e Yasutani Roshi (fundadores da Sanbô Kyodan - uma vertente bastante crítica ao fenômeno da profissionalização dos monges no mundo contemporâneo). Desse contato, suponho, resultou algo de sua técnica que se assemelhava a koans. Diferente do que pensa o senso comum, por vezes da mesma maneira a academia e seus intelectuais que na verdade, no geral, só sabem do "budismo oriental" aquilo que leram de filósofos ocidentais como Schopenhauer e Nietzsche (que absorveram o que puderam em suas épocas através de, não raro, traduções bastante duvidosas), koans também são usados no treino da Soto e não apenas no Rinzai.
Tudo varia e depende, no zen, da linhagem e do seu professor. Ou professores - não precisa haver uma filiação absoluta a um apenas, tanto que peregrinações para treinar com outros roshis sempre foram bastante comuns, inclusive na literatura clássica.
Segui a prática, portanto, depois de minha primeira Universidade, frequentando o Busshinji de SP, fazendo retiros periódicos e dokusans.
Não encontro a Sangha desde o início da pandemia. Algo que, espero, se modifique agora que estamos numa situação mais segura. Também porque não resido em São Paulo. Embora parte de minha família seja da capital e vá para lá com alguma frequência todos os anos desde criança.
Tive uma sorte enorme e imerecida, durante meu caminho no zen. Alguns dos monges e praticantes que conheci não só me ajudaram espiritualmente, mas algumas vezes, até mesmo materialmente, doando samuês (vestimentas formais) e/ou financiando custos para permanência em retiros. Sempre serei imensamente agradecido pelos bons encontros que ocorreram.
Hoje, depois de ter metade de minha vida dedicada ao zazen, não sei como é viver sem o dharma. Acho curioso pensar a respeito, pois passa a ser algo que te acompanha em todas as atividades do cotidiano. Sigo dizendo que não conheço nada no campo do pensamento e práticas ocidentais como a experiência do zen. Embora trate de algo que esteja também, indubitavelmente, presente no campo das artes, da música e da curiosidade humana de modo geral.
Poucas coisas são tão comuns e nos irmanam a todos como o mistério, a insatisfatoriedade e as grandes questões sobre vida/morte (sei que existem tradições meditativas e outros exemplos no ocidente, mas não tenho muito conhecimento sobre tais tradições).
Michel Foucault, grande filósofo francês, de pensamento representativo da sensibilidade da contemporaneidade, segundo consta, esteve alguns dias junto de alguns monges, convivendo e partilhando de seu dia a dia e fez declarações sobre a sensação de originalidade de sua experiência: pode ficar aqui como uma dica de pesquisa muitíssimo mais interessante sobre o assunto.
vales cerrados
em meio ao alegre carnaval
entoam dharma
.
.
.
É uma convenção antiga, uma atitude ética, que qualquer um que fale sobre zen ou conceitos relativos à prática aponte suas fontes e professores. Não é possível treinar o zen por conta própria, sozinho. O contato direto, durante anos, com professores é imprescindível. E a sangha sempre tem um papel fundamental.
Gasshô.
.
.
*composição nossa - variados timbres de cello (instrumentos de samples e modelagem sonora), silêncios & pandeiro; estará disponível em áudio de alta qualidade em disco ainda a ser lançado
Na primavera dizemos "mudança virá com
o verão"
No verão dizemos "mudança virá com
o outono"
No outono dizemos "mudança virá com
o inverno"
Inverno chega e sabemos que temos que esperar
Por outra primavera
y.o. 2000
In the spring we say “change will come in the summer”
In the summer we say “change will come in the fall”
In the fall we say “change will come in the winter”
Winter comes and we know we have to wait
For another spring
y.o. 2000
(yoko ono, trad.: m.t.)
PEÇA D´ÁGUA
Dê ouvidos ao som
da quebrada/
subterrânea
água
1963 primavera
§
Surrupie uma lua n´água com uma vasilha.
Siga subtraindo-a
até que nenhuma lua mais seja vista
no líquido.
1964 primavera
WATER PIECE
Listen to the sound
of the underground
water.
1963 spring
§
Steal a moon on the water with a bucket.
Keep stealing until no moon is seen on
the water.
1964 spring
(yoko ono, trad.: m.t.)
bobolouco
não sou como eles
posso fingir
foi-se o sol
tenho um isqueiro
já era o dia
me divertindo ainda
acho que sou um bobo
mas louco
é quem me diz
e não é feliz
não é feliz
eu juro que é melhor
não ser um normal
se eu posso pensar
que deus sou eu &
brllllluuuuuuuuuuuuu!
meu coração
quebrou-se
tenho um pouco de
COLA
vamos cheirar
e tentar remenda-lo juntos
vamos passear nas nuvens
depois vamos cair
numa puta ressaca
queimar de sol
adormecer
querer longe
a alma uma pechincha
licão aprendida
me queira sorte
arder tranquilo
me acorde
se eles têm três carros
eu posso voar
se eles rezam muito
já estou no céu
sim sou muito louco
não vou me curar
já não sou o único
que encontrou a paz
“A maioria das pessoas lê poesia como se fosse prosa. A maioria quer ‘conteúdos’ mas não percebe formas. Em arte, forma e conteúdo não podem ser separados. Perguntava o poeta Yeats: ‘Você pode separar o dançarino da dança?’ Quem se recusa a perceber formas não pode ser artista. Nem fazer arte.”
(décio pignatari)
una carta
- fala, meu amigo argentino/
estimado señor/
cujas noites enredadas pelo tango/
perezperón/ la lucha/
le peras, gardênias/ gardéis & cabezas/
sangue acelerado do chimarrón/
melhor cervezas que iglesias/
tal como no passado/ in vino veritas/
noites alegres de cantar mujeres/
estrellas & mujeres/ mujeres estrellas/
contra a imensidão do manto escuro/
(...)
talvez jamais entenderia/
menos ainda concordaria/
com tais versos:/
como 'são belos sim estes desertos///////
e tudo mais é só/ um/ sopro/ e foi. /'
fraternas/ saudações.
lokisai (propósitos)
a mário faustino
tigres dos dias, um a cada manhã.
se chegar até lá, talvez aos cem
escreva algum verso notável.
talvez aos 106 (quem sabe?)
algo verdadeiramente faça movimentar
meus irmãos humanimais.
se nada disso acontecer,
deixarei uma boa trilha de tentativas
que, embora não passando de diluições,
ao menos apontaram para
o que me pareceu mais consistente.
alice cooper
num mundo em q o fascismo avança
além de uma igreja em cada esquina
os ídolos do "rock" são bandos de mauricinhos
despolitizados sem noção do ridículo
sem vergonha alguma de exibir seus privilégios
para um mundo que não fazem ideia de como é maior
de como se organiza (a não ser seus empresários
e contratantes: O.I.N.C & CO., OINC!)
não fazem ideia de como é maior do que seus umbigos
enquanto vão sendo convencidos e convencem
que são as mais velha/nova maravilha da prateleira
não fazem ideia da máquina de ódio a qual servem
COME ON BABY EAT THE RICH
NAZI LIVES DON´T MATTER
alice cooper don´t give a shit
caríssima dotôra psican
nalista,
no nirvana
não há sexo
nem o que transcender
(posso estar errado, mas é uma resposta dada de alguém que se deu ao trabalho de ir estudar formalmente - com um grupo, etc - o assunto. por anos. ave, j. lacan. beijos)
AUTORRETRATO
katana cintila contra o céu
meu esqueleto exposto a todos
eu, gabadão como um general do zen
louco de sorver a vida
desfrutando o sexo ao máximo
(ikkyu sojun - SÉCULO XIV, trad.: m.t.)
.tgvv
para pagamento impossível
de dívida inexistente
com piratas &/ou funcionários
do processo contra K (d´eu
q. não quero M pra mim)
- by peder pão (we are colleagues
my friends) entreguem em sealand
(51 53'40"N, 1 28'57"E)
selado numa garrafa perdida
do vinho do porto (do porre)
mais forte (muito apreciado
peloO pessoa em pessoa,
dizem) aos tamborins do real
oceano que não existe
à éther gaivoltaslivres
é TUDO NOSSO, companheiros! o/
céu de brigadeiro céude-
panos-sem-limites spalhem
spread the word A palavra
vermelha como brasil
aquela palavra cantada
- atenciosamente, do
3 (ˈθɜrd) mundo não-mudo
9OSTO POR VÓS ETERNA(MENT6
NA TERCEIRA GUERRA (n6vo terceiro
reich) - dentrotambém a dedi
rósea aurora ῥοδοδάκτυλος -
dentro do terceiro mundo
depois dos alvos só
is
(...)
"(...)
Monges hoje em dia são em sua maior parte,
ignorantes e fogem do Zazen como algo cansativo; estão deserdados em suas meditações,
concentrando-se, ao invés, em decorar seus templos. Seu Zazen é uma vergonha e estão
meramente mascarando-se de monges — os mantos com os quais brincam virarão pesadas
roupas de tortura algum dia.
(...)
Neste mundo,
Todas as coisas, sem excessão,
São irreais.
A morte mesmo
É uma ilusão.
A ilusão faz parecer que apesar do corpo morrer, a alma permanece — este é um grave erro. Os
iluminados declaram que tanto o corpo quanto a mente morrem juntos. “Buda” quer dizer
vazio, e céu e terra voltam ao chão original do ser. Eu coloquei de lado os 80.000 volumes da
escritura e lhes dei a essência neste fino volume. Isto lhes trará grande felicidade.
Escrevendo algo
Para deixar para trás
É ainda um outro tipo de sonho.
Quando eu despertar eu sei que
Não haverá ninguém para o ler."
(do "esqueletos"
de ikkyu sojun, trad.: marcos beltrão ryokyu)
À esquerda da parada
"Li da sua banda num zine do rolê
não mencionaram seu nome, não mencionaram você"
Brisas boas da Georgia, de boa e quentinho
Segui para o norte, você seguiu para o norte
Sem parar, parar, parar
De que lado cê está?
Sem parar, parar, parar
De que lado cê está?
Voz maçante rindo, certa vez no rádio
Parecíamos bêbados, nunca fizemos isso ao vivo
Passando e está tarde, a estação sumindo na paisagem
A gente pega outro no próximo pico
Sem parar, parar, parar
De que lado cê está?
Sem parar, parar, parar...
Segue crescendo, menina bonita,
Tirando som da maquiagem, vestindo sua guitarra
Envelhecendo num boteco, vamos envelhecer num boteco
Iremos pra San Francisco, de lei, definitivamente não pra L.A.
E se eu ficar muito tempo sem te trombar
Tento te achar
À esquerda da parada
(The Replacements)
Rex caeli domine
(Musica enchiriadis)
Rex caeli, domine maris undisoni,
Titanis nitidi squalidique soli,
Te humiles famuli modulis venerando piis
Se, jubeas, flagitant variis liberare malis.
Cithara sapientis melodia est
Tibimet, genitor, forte placita;
Cuncta captus devotorum laudum munia
Nostri quoque sume voti harmoniam.
Placare, Domine, nostris obsequiis,
Quae nocte ferimus, quoque meridie,
Criminum purga maculas,
Quibus corda nostra hebetant,
Nobis et, bone senior,
Pro reatu dona veniam.
Nullus dignus tuis potest obtutibus
Praesentari sine labe flagitii,
Ut laudem tuo sancto canant nomini,
Et tu gesta non scrutaris, piissime,
Sed cor hominum.
rei dos céus
(manual de música)
rei do céus, senhor do insondável oceano,
do luminoso titã o sol e da terra sombria,
teus humildes servos te veneram em devotadas canções
e, sinceros, suplicamos, nos libere de todo mal.
da cítara sábia melodia
a ti, criador, que seja agradável
tendo recebido devotados louvores, de nossa oração,
a harmonia das preces
apaziguamento possa surgir de nosso serviço
oferecido tanto em noites quanto nos dias
limpa o manchado de nossos erros
aos quais o coração fôra insensível
oferendas te sejam dirigidas
para rendenção da nossa culpa
nenhum de nós sem mácula e pecado
digno o bastante para cantar
o teu nome santo. tu que perscrutas
não apenas as ações
mas os corações dos homens
(trad.: m.t.m.)
(*tendo sido criado, formado em outra tradição, tenho total aversão e desprezo por quaisquer concepções que denotem servidão e exaltação a um senhor ou entidade toda-poderosa. para mim, quaisquer ideias de um criador são sem nenhum sentido, refutáveis e completamente absurdas. no entanto, tenho a mais profunda emoção e êxtase por estas canções e melodias. daí enorme respeito e admiração.)
lembrete: desconfiar sempre de "gênios" super populares, exaltados pelo mercado e/ou intelectuais de butiques (& demais bueiros) alienados. assim como da opinião de IAs programadas por funcionários do grande capital sobre o tema. ademais, é o que dizia oswald de andrade: "ó criadores das elevações artificiais do destino: eu vos mal-digo! a felicidade do homem é uma felicidade guerreira. tenho dito. e viva a rapaziada! o gênio é uma longa besteira!"
“em todo caso, quanto mais nobre o gênio, menos nobre o destino. um gênio pequeno alcança a fama, um grande gênio recebe a infâmia, um gênio maior sofre o desespero; um deus é crucificado”.
(fernando pessoa)
Mara
(threnody contemporâneo)
"Desde a antiguidade é sabido,
a punição para um povo que fez pouco caso da finitude,
da dor relacionada ao seu processo para as pessoas
e suas cerimônias de despedida, é o seu total aniquilamento."
1 - não é possível matar um morto
2 - não é possível matar a morte
3 - o impossível pois sim! existe
4 - 死 xiii! - a morte
que tentaram menosprezar
e ajudar a espalhar
viverá eternamente
lembrando aos ainda vivos
(alguma justiça) do óbvio:
(uh!lula
nte)
vocês eram apenas
um bando de imbecis
cães estúpidos ladrando
alto na madrugada
uns para os outros
& para o vazio
(casa vizinha
de idosos doentes e insones
com traços de estrangeiros)
exibem a estupidez dos falsos
cristãos criaturas indiferentes
assemelhados a psicopatas
nenhuma compaixão
torturadorezinhos hipócritas
eleitores do anticristo
tribo dos invertidos
funcionário$ do diabo
que adoram como deus