quinta-feira, 13 de janeiro de 2022



algumas velhices são péssimas

não de sabedoria 

é quando os homens secam

é quando verdadeiramente

ensurdecem 

rígidos galhos sem seiva

facilmente se despedaçam


§


infinito geometria

ensinada pelo oceano

que engole os sóis

que engole as luas

que engole os homens

que engole os tempos








segunda-feira, 10 de janeiro de 2022

 


(embora talvez já seja muito tarde e estejamos mesmo a caminho de nos tornarmos cada vez mais apenas robôs, metódicos medíocres, cumpridores de metas, completamente presos à materialidade passageira das coisas. mais do que nunca, em tempos de comércio e interesses particulares acima de todos e de tudo, tendo seu sentido completamente rebaixado, assim como outros significantes fundamentais, se esvaziando na pena de pseudo poetas e embusteiros, na boca de qualquer um, em qualquer propaganda interesseira, manipulado por algoritmos, ainda precisa, urgentemente, ser reinventado) 


janeiro é o mês de joão cabral de melo neto. 


"O amor comeu meu nome, minha identidade, meu retrato. O amor comeu minha certidão de idade, minha genealogia, meu endereço. O amor comeu meus cartões de visita. O amor veio e comeu todos os papéis onde eu escrevera meu nome. 

O amor comeu minhas roupas, meus lenços, minhas camisas. O amor comeu metros e metros de gravatas. O amor comeu a medida de meus ternos, o número de meus sapatos, o tamanho de meus chapéus. O amor comeu minha altura, meu peso, a cor de meus olhos e de meus cabelos. 

(...)

O amor comeu minha paz e minha guerra, meu dia e minha noite, meu inverno e meu verão. Comeu meu silêncio, minha dor de cabeça, meu medo da morte."


















sexta-feira, 7 de janeiro de 2022



quanto à minha talvez arte

trabalho quando quero mais 

do que apenas "quando quero"

quando não há como não 

fazê-lo nenhum fã me faz 

funcionário os inimigos 

prefiro quase me obrigam 

no mínimo a reflexão 

onde queres dinheiro sou 

paixão nenhum prêmio 

me aprisiona ao ridículo 

nada valho não me vendo