quinta-feira, 11 de junho de 2009

XXXI


"Maurício,"



não é que toda pressa seja inimiga

da perfeição, pontiaguda de arrepio,

mas dessa atrapalha o fluído

rente a uma certa forma japonesa

de deixar brotar do solo mesmo

o que em outra cama seria insípido.


Musashi, creio, contra o balbucio

eterno da palavra (mesmo essa

vizinha ao puro vento) soube deixar-se

alerta lavrando com paciência

só o solo aplainado do espírito

que tem do peito casas, ruas, portaria.


Será mesmo o árduo exagero

do fazer sem fazer muito,

taoísta cabraliano, de fato

o derradeiro plano do fazer

que se faz mais no contido do

não querer que no enlace com o enevoado?


O que sabe-se, meu velho amigo,

é que os pés estão um atrás do outro,

tempestade se faz mesmo quando tropical,

não só a histeria de um vendaval mas*

essas gotas enormes que caem do contido

poema de nuvens quase negras - paciência torrencial.



* A chuva no Japão carrega os dois extremos da ventania e dos pingos fininhos. Não é como aqui, carregada de água. Seguindo o exemplo do Cordel, a gente tem é que fazer cair água!