vão os dias desabando sobre o tédio
a corrida nas manhãs, e mais grana
e sempre à noite sobre os travesseiros
pedras afundam num nada abissal
homens feitos de bocejo nos ônibus
observam os pássaros nos prédios
e não há ônus com o que (impávidos!)
distraindo os rostos nas telas de sangue
vê-se paranóia nas esquinas, crack –
latas acesas, café da manhã
matilhas com mantas quadriculadas
e pés pretos pisando o asfalto imundo
e o mundo descendo por entre oceanos
de gentes e eu enroscadão, atrasado
no meio de tudo com as mãos nos bolsos
furados e sem fundos onde mexo
os dedos procurando alguns trocados
e pro busão até o trampo – vão trinta
minutos de chacoalhos, cotovelos
nuvens fechando o cinza sobre nós
edifícios estão fechando o trânsito
congestionado; estão fechando as portas
da lotação, vamos seguindo juntos
quietos, fechados em nossas trincheiras
***
e ela andou dizendo como andam ralos
os seus cabelos, e brancos também?
veja os meus, e só tenho vinte e poucos
e perder a segunda gravidez
por causa de estresse e mais discussões
ela culpou sua mãe e bateu a porta,
foi escutar sarah vaughan no seu quarto
ele trocou de carro? o notebook
veio da china, uma mamata da boa!
ó! empédocles, logo após ódio (o fogo),
o amor (as águas), sobrará pó para
espalhar por sobre quilhas nuas o ar
arrastando a vida, recomeçando
a morte, outra, outra vez, no seio de tudo
os mais bravos mesmo apesar de salvos
vão cair perante o tempo sem memória
dos homens dessas cidades de pedra
barata, homens sem deuses, sem mágica
(To be continued)